Principal | Calendário dos artigos | Página de Links |
Contrastes Brasileiros
José Celso de Macedo Soares
Visito,
regularmente, as várias regiões do Brasil, anualmente, para
aquilatar seu progresso.Nordeste, Sul e Sudeste são os mais visitados.
Não me atenho às capitais. Vou ao interior para observar
a vida nas pequenas comunidades. Seu dia a dia, suas mazelas e seu progresso.
Acabo
de voltar de Santa Catarina: Florianópolis, Blumenau e cidades próximas
como Pomerode e Nova Trento. É sempre um prazer visitar Santa Catarina.
É o estado mais equilibrado do Brasil, na produção,
industrial, agro-pastoril e de serviços.Segundo estatísticas
é o segundo maior gerador de divisas de exportação.
Guarda também boas tradições históricas. Ribeirão
da Ilha e Santo Antônio de Lisboa, na Ilha de Santa Catarina, são
duas relíquias com suas casas construídas pelos açorianos,
que ali aportaram no século dezesseis.Da gosto ver como estão
preservadas. Blumenau enche-nos de satisfação com sua pujante
industria de cristais, malharias, cerâmicas. Com apenas cerca de
300.000 habitantes tem uma Universidade que propicia cursos de graduação
e pós-graduação O comercio, vigoroso, é uma
mostra do trabalho de seus habitantes.Segundo informações
locais não há falta de trabalho em Blumenau.Ruas limpas e
bem traçadas, recheadas de casas no belo estilo enxaimel , que os
colonizadores alemães ali deixaram. Pomerode -a mais alemã
das cidades brasileiras- é um primor de beleza com suas belas casas,
seus jardins e parques.Com cerca de apenas vinte e quatro mil habitantes,
tem industria pujante de porcelanas, moveis, e malharia. Traços
da colonização germânica.
Falando
do Sul não posso esquecer da Serra Gaúcha, com suas preciosidades
que são as pequenas cidades de colonização italiana,
entre elas, Feliz, Veranópolis e Antônio Prado, Esta cidade-
berço da colonização italiana- declarada Patrimônio
Histórico e Cultural do Brasil pelo IPHAN, com apenas cerca de quatorze
mil habitantes, encanta pelas dezenas de casas preservadas, todas originais,
de madeira, com seus maravilhosos lambrequins ,construídas pelos
colonizadores iniciais. E todas habitadas.Ruas largas, com canteiros floridos,
dividindo as pistas.Ali se desenrolou o famoso e encantador filme brasileiro,
“O
Quatrilho” Um pequeno museu da colonização e também
uma boa livraria completam o quadro cultural. Coisa rara no Brasil em cidades
deste tamanho. Dá gosto percorrer as regiões citadas
Em contraste,
o Nordeste. Embora as capitais tenham mostrado progresso e melhor urbanização,
principalmente devido ao turismo, é no interior nordestino que se
revela o contraste com as cidades que anteriormente mencionei. Se caminharmos
para o sertão ai a desolação é maior. Mas,
porque até hoje, após dezenas de anos não conseguimos
tirar a região do panorama de pobreza e de miséria em que
se encontra? Terão faltado estudos adequados? Não creio.
Euclides da Cunha, desde os “Sertões”, já colocava
o tema em discussão. Ministros e administradores debateram-no exaustivamente..
Faltou-nos, talvez, capacidade executiva, conhecimento tecnológico
e, principalmente, recursos para resolver o problema em termos racionais.
A política sempre foi de socorrer nos momentos de crise, para esquecer
tudo na época da bonança. Por mais que dourem a pílula,
nada foi conseguido de substancial quanto à melhoria das populações
mais pobres. A mesma e violenta desigualdade na distribuição
de renda. Regime quase feudal na administração das propriedades
rurais. Baixíssima produtividade agrícola. Alto índice
de moralidade infantil. Escasso e baixo nível educacional. Carência
alimentar para a maioria dos menos aquinhoados.. É este o quadro.
Nestas
breves linhas o que quis demonstrar é o grande contraste que hoje
existe entre as regiões brasileiras.E, ela existe, na minha opinião,
como resultado da colonização nelas implantada.No Nordeste
a portuguesa , herança ibérica da monarquia absoluta,estado
paternalista de distribuição das benesses aos nobres e apadrinhados
do poder. Em contraste no Sul , a terra e a riqueza conquistadas pelo trabalho
duro dos colonos, abrindo veredas, construindo seu habitat, sem esperar
as benesses do poder. Como foi o trabalho de Hermann Blumenau no
vale do Itajaí.
Para
corrigir nossas desigualdades,eloqüente e apropriado este trecho de
Tocqueville em sua Democracia na América: “Sei que muitos
de meus contemporâneos afirmam que as nações não
são senhoras de si mesmas, e que elas necessariamente são
sujeitas a um poder insuperável e incompreensível, advindo
de eventos anteriores, de sua raça, ou do solo ou clima de seus
territórios. Tais princípios são falsos e covardes.
Tais princípios não podem produzir senão homens fracos
e nações pusilânimes. A providência não
criou o gênero humano totalmente independente ou totalmente livre.É
verdade que em torno de cada homem um circulo fatal é traçado
, além do qual ele não pode passar; mas, dentro dos extensos
limites deste círculo, ele é poderoso e livre; isto vale
tanto para os homens quanto para as comunidades. As nações
do nosso tempo não podem impedir que os homens se tornem iguais,
mas depende deles mesmos se o principio da igualdade os conduzirá
para a servidão ou para a liberdade, para o saber ou para o barbarismo,
para a prosperidade ou para a desgraça”
Termino com
estas palavras de Adam Smith na sua famosa obra A Riqueza das Nações,
escrita em 1776, mais de 200 anos atrás:
“Nenhuma
sociedade pode ser florescente e feliz, quando uma grande parte de seus
membros é pobre e miserável”